As instituições públicas de ensino superior do Rio Grande do Norte ainda não sabem se vão usar, neste ano, o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) como prova unificada de acesso às universidades. Representantes de três universidades públicas - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (Uern), Universidade Semi-Árido (Ufersa) declararam ontem, durante audiência pública realizada na Assembleia Legislativa, que só após esgotadas análises e discussões é que se poderá tomar uma decisão. Segundo declarações da presidente da Comissão Permanente do Vestibular (Comperve-UFRN), Bernadete Leite, a tendência da UFRN é adotar neste ano o mesmo sistema de avaliação do ano passado. As mudanças viriam no próximo ano, com a universidade utilizando um sistema híbrido, mesclando o Enem com provas discursivas. Ela esclarece que desde 2004 a instituição trabalha uma política de inclusão social e que ‘‘a mudança no sistema de avaliação deve implicar diretamente não apenas na seleção dos alunos mais aptos, mas, sobretudo, na melhoria da qualidade do Ensino Médio da escola pública’’. Já o representante da Uern, José Egberto Mesquita, declarou estar de acordo com os termos propostos pelo MEC na mudança do vestibular, ‘‘mas quando se oferta um processo novo, há também de se ofertar condições’’. Ele questiona se o governo federal vai prover condições para quem precisa se deslocar para cursar universidade em outros estados. ‘‘Porque de nada adiantará ter o curso dos seus sonhos se o aluno não tem condições de se manter’’, questionou Egberto, enfatizando que a posição da instituição é discutir o assunto até a exaustão, mas a UERN está preparada para mudar junto com o país. A Universidade do Semi-Árido, em Mossoró, já previa mudanças em sua forma de avaliação. O reitor da Ufersa, Josivan Barbosa Menezes, lembra que a instituição, que foi transformada em universidade há quatro anos, tencionava unificar o vestibular com o da UFRN. ‘‘Agora, pretendemos levar para o Conselho de Ensino as duas situações: ou aderir ao modelo da UFRN ou fazer a adesão ao processo unificado proposto pelo governo federal’’, disse o reitor. Participando também da audiência pública, os líderes estudantis Manassés Duarte, representante da Federação de Entidades Estudantis do RN (Fern), e Nestor Gomes Duarte, do Diretório Central de Estudantes da Uern, são favoráveis a mudanças no vestibular, mas criticaram alguns pontos. Para Manassés, o governo também deveria colocar em discussão o valor da taxa de inscrição do vestibular. ‘‘Se a preocupação é com o aluno de escola pública, o custo de R$ 100 é caríssimo para a grande maioria das famílias potiguares’’, enfatizou. Nestor questionou a segregação que a concorrência nacional poderia provocar no aluno nordestino, tendo em vista uma qualidade de ensino inferior a de regiões mais desenvolvidas. ‘‘Em Mossoró posso fazer vestibular para cinco instituições diferentes, por que tentar vaga em outros estados? E por que oferecermos nossas vagas para quem vem de fora?’’, perguntou. Poucos dias depois de ser anunciado, o projeto que previa o Enem como forma de ingresso no ensino superior já está perdendo força. A UFRN é apenas um exemplo de instituições que poderão não seguir, na íntegra, o modelo proposto pelo MEC. O próprio Ministério da Educação, pressionado pelas universidades, já anunciou quatro modelos alternativos, embora negue desfiguração da ideia original. Pela proposta, as universidades que aderirem ao novo Enem terão mais liberdade de escolher como utilizar a prova. A primeira opção é adotá-la como exame de ingresso único, conforme o projeto inicial previa. Mas, se a instituição quiser, poderá combiná-lo com o vestibular tradicional, fazendo duas fases de seleção, ou usar a nota da prova apenas para as vagas ociosas ou somente para determinados cursos.
Fonte:Diario de Natal